terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Bebendo estrelas: o grande Champagne


“Venham rápido, irmãos, estou bebendo estrelas”. 


Essa frase é atribuída ao monge beneditino francês Dom Pierre Pérignon, o monge que não criou o champagne e nem criou o método champenoise (como muita gente acredita), mas ele deu sim alguns dos maiores contributos para que o método viesse a se tornar anos depois naquilo que conhecemos hoje. 

De qualquer forma, só uma bebida poderia acompanhar uma frase incrível como esta, e por isso deixemos claro: champagne é champagne, o resto é espumante. Pois o grande champagne em sua maestria é a perfeição, e não aceita analogias de nenhuma forma.

O vinho das grandes coroações dos reis e de importância política e geográfica, é imponente e único. Nada se iguala ao champagne em sua mágica de acidez, refrescância e aromas... a bebida seduziu paladares e conquistou o mundo.

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FAMA & GLAMOUR

Em 1700, Luís XIV mostrou aos palácios a maravilha francesa. Na literatura, Voltaire se interessou e reforçou o champagne como "vinho das artes". Napoleão dizia merecer a bebida em suas vitórias ou para consolá-lo em seus fracassos. E ainda na fase de Napoleão, aos 27 anos surge Nicole-Barbe Clicquot-Ponsardin, que ficou conhecida como a "Viúva Clicquot", herdando a famosa vinícula. Sir Winston Churchill, grande apreciador, torcia o nariz se ouvisse pedidos de champagne de forma banal.

O champagne sempre foi rodeado de requinte. No cinema, um dos maiores apreciadores de champagne é James Bond, em especial uma boa garrafa de Bollinger, citado em quase todos os filmes:


No filme O Satânico Dr No, Sean Connery (na pele de Bond) pega uma garrafa de champagne como arma. Mas ao se lembrar que era um Don Pérignon, diz: "55, seria uma pena quebrá-la".

Mas nem só de 007 vive o champagne... você sabia que é obrigatório servir a bebida nos jantares oficiais de presidentes? Tudo isso para entender que o champagne é unico e seu processo é especial, fazendo dele uma das principais bebidas do mundo.

Tenho um especial prazer em escrever este post, já que é a minha bebida favorita e sou totalmente a favor de seu glamour, não há como negar... 

Um dos pedidos que mais escutei de clientes durante a minha carreira como sommeliere foi: "Gostaria de pedir um champagne". Quando se mostra a carta, o cliente se assusta e diz: "Não... gostaria de um champagne desses baratinhos..."

Vamos cortar o mal pela raiz: não existem champagnes "baratinhos", assim como também não existe Papai Noel e nem o tal coelhinho que leva ovos de chocolate... sorry

Mas antes de continuarmos, uma pergunta rápida: qual a forma certa de dizer, seria "o" champagne ou "a" champagne? Ambos estão certos, depende do que se refere... "o" champagne (com minúscula) se refere à bebida, e "a" Champagne (com maiúscula) se refere à região da França onde a bebida é produzida.

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O PROCESSO

Vejamos então os processos dessa grande bebida e parar com a mania, desde já, de pedir champagne quando na verdade algumas pessoas querem lambrusco...   :o)

Champagne é um vinho branco espumante produzido na região francesa de Champagne... por isso o espumante leva este nome. Sua produção é feita basicamente das uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier, e é uma AOC rigorosa (leia em relação ao AOC no post sobre denominações), seguindo uma legislação. Por isso, se uma bebida leva o nome de Champagne é porque se refere à região, não podendo nenhum outro espumante no mundo levar este nome.

O único método usado no processo da fabricação do champagne chama-se Champenoise: é um método de duas fermentações, onde a primeira ocorre como em todos os vinhos, vinificado em tanques. A segunda fermentação (e aí é que ocorre a mágica) acontece no momento de engarrafar o vinho. Aí é acrescentado um composto de fermentos, além de 24 g de açúcar por litro de vinho, assim a levedura fará a sua parte criando as bolhas de dióxido de carbono. As garrafas são colocadas com os gargalos para baixo, girando um quarto de volta durante o periodo mínimo de 1 ano para não safrados e 3 anos a mais para safradas.

Como se formam borras (aqueles sedimentos naturais no fundo da bebida), congela-se o gargalo a -25 graus, e assim a borra com leveduras é expulsa pelo gás sob pressão, e o que se perde neste processo é substiuído por uma mistura chamada "licor de dosagem". A União Européia declarou que a expressão “méthode champenoise” só pode ser utilizada para vinhos provenientes da região francesa de Champagne, aprovando o uso da expressão "méthode traditionnelle" para os vinhos produzidos pelo mesmo sistema em outras regiões geográficas.

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CLASSIFICAÇÃO DO CHAMPAGNE (conforme o teor de açúcar):

- EXTRA BRUT e BRUT INTÉGRAL: raros, não têm adição de licor
- BRUT: possui 1% de licor
- EXTRA-SEC: possui de 1% a 3% de licor
- DEMI-SEC: é levemente doce e possui de 3% a 5% de licor
- DOUX: champagne doce, indicado para sobremesa, possui entre 8% a 15% de licor

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BEST OF THE BEST

A busca pela perfeição dos produtores de champagne atinge seu ápice com os Cuvée de Prestige, de dégorgement tardio (resfriamento do gargalo para a retirada da borra, feito mais tarde propositalmente), como a linha "Dom Pérignon Oenothèque" ou a linha "Krug Collection". No caso da Dom Pérignon Oenothèque, por exemplo, o dégorgement tardio fez com que a safra de 1995 só fosse ao mercado em 2009. Todos estes vinhos são conhecidos também por "champagnes monumentais", devido à sua alta qualidade.

Agora deu para entender porque a bebida merece brindes e toda atenção? Espero que agora os brindes tenham a altura e beleza do grande espumante champagne.

Boa Degustação!


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