terça-feira, 6 de março de 2012

Terroir: não é só terra

Um dos assuntos que mais causam dúvidas e questionamentos é o conceito do TERROIR, termo francês que significa um conjunto de fatores que contribuem para a identidade do vinho, em especial referentes ao local, solo, topografia, sol que recebe e clima onde o vinhedo foi plantado.

Todo grande vinho tem um caráter único, e é isso que diferencia uns dos outros, afinal vinho tem vida, tem personalidade e tem identidade, identidade esta que vem das características de onde a uva foi plantada... mas como isso se dá, afinal?

Há quem defenda o conceito do terroir de forma extramamente correta (pelo menos do meu ponto de vista)... se buscarmos um exemplo, podemos usar um ícone do mundo do vinho: a inquestionável vinícola Domaine de la Romanée-Conti, instalada na Borgonha, França.

Ela é proprietária de seis parcelas diferentes de terra, quatro delas vizinhas e outras duas a mil metros de distância, todas produzindo a mesma uva Pinot Noir, com as vinhas cultivadas da mesma forma, todas com o mesmo cuidado e vinificadas de modo idêntico... mas produzindo seis vinhos tintos completamente diferentes, cada um com sua identidade retirada de seu terroir.

Isto está longe de ser produto de marketing (como muitos imaginam): o vinho Romanée-Conti há seculos já se destacava dos outros Pinots da Borgonha, tendo por isso seu perímetro destacado desde 1521... seria mera coincidência? Obviamente que não, isso é efeito do terroir utilizado.

Outro exemplo de terroir como parte fundamental da produção dos grandes vinhos são as uvas Tempranillos plantadas em Rioja e em Ribera del Duero, na Espanha. Essas duas regiões produzem os mesmos vinhos, com as mesmas uvas, mas com características totalmente diferentes. 

O mesmo acontece na Itália com a uva Nebbiolo na produção do grande e potente Barolo, que se transforma em um vinho mais macio na região de La Morra. Já na região de Serralunga D´Alba a mesma uva se apresenta com seu tanino intenso típico, mostrando a integral harmonia do homem, vinha e natureza... se existe mágica no mundo então seu nome é terroir.

Uma das questões que levam o conceito terroir a ser questionado são os novos países produtores, que se baseam na descomplicação do conceito para minar a posição do mercado europeu, que até então eram os "donos da bola" na competição da importação. 

O jogo funciona assim: a Europa defende que os vinhos se tornam iguais e banais quando não têm personalidade e característica própria, sendo apenas clonados e sem expressão quando se despreza o terroir. Já os novos produtores (normalmente do novo mundo) alfinetam chamando o terroir de jogada de marketing para os europeus priorizarem um mercado, e esses novos produtores querem suas produções baseadas apenas nas uvas e produtores, e nada de denominação de terroir.

Bem, agora cabe ao consumidor escolher o que mais lhe agrada conhecer e respeitar. Se pensarmos que qualquer uva produzida em qualquer solo daria um bom vinho dependendo exclusivamente do produtor e da uva, então, fazendo um paralelo, qualquer país com um pedaço de terra poderia ser produtor de café e deixar o Brasil longe... já imaginou o vinho do Porto sendo produzido em outro lugar que não Portugal?

Assim sendo vale a pena refletir...

Boa Degustação!


Sem comentários:

Enviar um comentário