quinta-feira, 19 de abril de 2012

Decantar para encantar

Nos dias de hoje, tudo é pressa, tudo deve ser rápido e para ontém, e parece que já se esqueceu o velho ditado "a pressa é inimiga da perfeição". 

Hoje se procuram vinhos jovens, vinhos rápidos de giro, tudo com uma conotação de pressa, de agilidade e rapidez. É, meus amigos... chegamos aos tempos modernos, que já satirizava Chaplin na época do cinema mudo. Seria até uma boa ideia ver o eterno Carlitos parafusando, apertando e desapertando, com o seu jeito desajeitado, e entre uma tarefa e outra abrir uma garrafa de vinho jovem e bebê-lo com pressa... tal imagem funciona bem e serviria aos novos conceitos de muitos dos atuais consumidores de vinho.

Na minha vida prática, posso contar nos dedos as vezes que levei à mesa de um cliente um DECANTER, por pedido dele ou insistência minha. De qualquer forma, este acessório, que para mim é indispensável, anda sendo pouco usado, bem pouco mesmo. Com o decanter o vinho se transforma, ele "cresce", é volúvel de forma extremamente positiva.

O vinhos tintos e robustos pedem oxigênio quando se abre a garrafa para, digamos, se desenvolverem melhor. Muitas vezes um vinho começa tímido... porém, o oxigênio o leva a ser o grande astro da noite. É aí que entra o decanter.

Assim como é importante servir a bebida em sua temperatura correta, decantar é encantar. Agora batemos de frente com o fato da ansiedade ver a taça ali, límpida, cristalina, vazia, uma vontade enorme de degustar... mas aguarde um pouco, os benefícios da decantação valem e muito a espera.

A pergunta mais frequente é: afinal, quanto tempo o vinho deve ser decantado? Na verdade isso varia muito de vinho para vinho, isso vai estar muito relacionado à sua primeira análise e ligado diretamente ao tanino. Com o oxigênio os taninos são domesticados, ficam macios, agradáveis, e essa é inclusive a razão para que os vinhos, após a fermentação com seus taninos agressivos, permaneçam descansando em barricas de carvalho... tudo faz parte da mesma dança, da mesma magia, quando se trata da bebida mais envolvente do mundo.

No caso da falta de informação sobre o vinho, então o melhor é serví-lo e acompanhar a evolução no copo: se melhorar significa que ele reage muito bem ao oxigênio e será um vinho que pede o decanter. Alguns vinhos inclusive pedem mais oxigênio e são decantados com uma hora e meia de antecedência, as vezes até duas horas, afinal de contas o vinho conta uma história... haja fôlego. 

O decanter surgiu da idéia de separar fragmentos dos tintos quando estão há muito tempo guardados, daí vem a palavra decantar. Muitas vezes se forma uma borra no fundo da garrafa, e para este processo de separação é preciso ter experiência e prática ao passar o vinho pelo decanter e evitar, com muito cuidado, que os sedimentos da garrafa passem para ele, manuseando a garrafa sem mexer, sem agitar as partículas e sedimentos. 

O segundo passo deste processo é usar um ponto de luz no gargalo, e para isso é preciso retirar totalmente a cápsula. Com o auxílio da luz sabe-se o momento exato de parar de colocar o vinho no decanter assim que se enxerga o primeiro fio de borra no gargalo.

Lembrando que o recipiente em que vai se passar o vinho deve ser transparente, de preferência de cristal (assim como a taça), com a base da garrafa larga e a boca afunilada para a aeração ocorrer. Lembrando que a diferença entre decantar e aerar é que um se usa o ponto de luz para evitar o sedimentos e o outro apenas serve para o vinho "respirar". 

Agora, se o vinho é jovem, de giro e sem muita personalidade, esqueça esse processo todo... afinal, como já dizia Jorge Lucki: "são vinhos para beber rápido e esquecer rápido".

Boa Degustação! 



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